29/06/2023 às 16h09min - Atualizada em 30/06/2023 às 00h00min

Censo do IBGE: por que cidades como Recife e Olinda 'encolheram'? Veja o que dizem especialistas

Entre 2010 e 2022, duas das maiores cidades de Pernambuco perderam habitantes, enquanto municípios como Petrolina, no Sertão, e Caruaru, no Agreste, cresceram.

G1
https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2023/06/29/censo-do-ibge-por-que-cidades-como-recife-e-olinda-encolheram-veja-o-que-dizem-especialistas.ghtml

Entre 2010 e 2022, duas das maiores cidades de Pernambuco perderam habitantes, enquanto municípios como Petrolina, no Sertão, e Caruaru, no Agreste, cresceram. Vista do Recife a partir de Olinda, cidades em Pernambuco
Reprodução/TV Globo
O Censo 2022, divulgado na quarta (28), revelou mudanças na dinâmica de crescimento dos municípios pernambucanos. O levantamento mostra que dois dos maiores centros urbanos do estado, Recife e Olinda, "encolheram" nos últimos 12 anos, perdendo, respectivamente, 3% e 7,4% dos seus habitantes.

Por outro lado, Petrolina, no Sertão, cresceu 31,58%, subindo ao posto de terceira maior cidade de Pernambuco. Outra cidade média que também viu o número de habitantes aumentar foi Caruaru (PE), no Agreste, que chegou a 378.052 pessoas, um aumento de 20,05%.
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O Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) disse ao g1 que ainda não concluiu as análises dos resultados do recenseamento, mas informou que, embora as cidades irmãs tenham diminuído, todas as outras da Região Metropolitana cresceram.
Por isso, o g1 conversou com especialistas para entender o que tem provocado essas mudanças na demografia das cidades.
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Declínio do comércio no Centro do Recife
Para o professor Nilson Crocia de Barros, que leciona a disciplina de Geografia da População na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), um dos fatores que contribuem para as mudanças é o declínio do Centro do Recife como polo comercial dentro da Região Metropolitana.
"Há uma mudança substancial nos últimos 10, 20, 25 anos na dinâmica demográfica em direção a algumas cidades do interior ou à periferia das regiões metropolitanas. De certa forma, essa alteração se reflete, por exemplo, no Centro da cidade do Recife. A gente vê como declinou comercialmente. E vamos aos municípios periféricos, onde a gente vê uma grande dinâmica comercial, como Abreu e Lima, Paulista, Jaboatão [dos Guararapes]", observa o pesquisador.
Queda da fecundidade
O pesquisador Wilson Fusco, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), explica que a taxa de fecundidade - o número de filhos por casal - tem reduzido bastante nas grandes cidades.
"Essa queda de fecundidade tem sido observada desde os anos 1970 e está num nível baixíssimo hoje, o que causou esse crescimento médio, ao ano, no Brasil, de 0,52%. Isso também repercutiu no adensamento domiciliar. Nós temos hoje menos de três pessoas por domicílio no Brasil. No Recife, é a mesma coisa", afirma Fusco.
Segundo o professor Nilson Crocia, a fecundidade diminui à medida que os centros urbanos se desenvolvem.
"A área central, mais antiga, desse núcleo do Recife e de Olinda é uma área onde, pelo seu nível de renda e escolaridade, o número médio de filhos por família foi diminuindo. Em todas as áreas que melhoram seu padrão de renda, há uma tendência à diminuição de crescimento [populacional] ou, mesmo, de declínio", diz.
Problemas de infraestrutura nas grandes cidades
Outra questão apontada pelo pesquisador Wilson Fusco está em questões relacionadas ao dia a dia da cidade grande. Diante de problemas como alagamentos em dias de chuva, insegurança, trânsito e aumento do custo de vida, uma parte da população acaba optando por se afastar dos bairros centrais.
"Você tem gente que tem condições financeiras de permanecer no Recife num prédio ou se mudar para uma cidade perto e vir trabalhar. Por exemplo, pessoas que escolhem morar em Aldeia e em outros lugares onde você tem condições de viver numa casa térrea, mais próxima da natureza. E, ao mesmo tempo, vai encontrar quem não consegue mais pagar aluguel aqui e vai ter que se deslocar para outras cidades, usar o transporte público, levando duas horas para ir e voltar e perdendo muito tempo da sua vida dentro de um ônibus ou de um metrô", comenta o pesquisador Wilson Fusco.
Qualidade de vida no interior
O professor Nilson Crocia de Barros complementa que o interior de hoje mudou muito em relação ao do passado, com mais acesso aos bens de consumo.
"É uma realidade muito diferente daquela realidade chorosa, digamos assim, dos anos 1950 e 1960. É uma mudança profunda, pelas melhorias do PIB do país, políticas sociais, transferência, possibilidades tecnológicas, barateamento dos custos dos transportes. Tudo isso transformou o mundo rural e criou uma oportunidade para as pessoas saírem das grandes cidades", avalia.
O pesquisador Wilson Fusco cita também a abertura de universidades no interior como um dos fatores que podem ter contribuído para a redução de população em algumas das maiores cidades do país.
"A interiorização do ensino superior foi um fator que diminuiu um pouco a chegada de jovens para fazer universidade aqui na capital. Aquela migração de estudo deixou de existir, fazendo também com que Recife deixasse de receber tanta gente e essa população se redistribuísse pelo interior", avalia.
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Credito G1



Fonte: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2023/06/29/censo-do-ibge-por-que-cidades-como-recife-e-olinda-encolheram-veja-o-que-dizem-especialistas.ghtml


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