09/05/2023 às 08h51min - Atualizada em 09/05/2023 às 08h51min

"Se livrem do veneno": perfis vendem registro de vacinação contra covid-19 em grupos no Telegram

Inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde é alvo de investigação da PF

AB Notícia News
Terra
Reprodução/Telegram

esquema de falsos registros de vacinação contra a covid-19, inseridos nos sistemas do Ministério da Saúde, não é algo exclusivo de políticos - como o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado pela Polícia Federal por burlar restrições sanitárias adulterando seu certificado de vacinação. Há grupos abertos na internet que anunciam a venda desse serviço, para que pessoas “se livrem do veneno” e fiquem com o registro das doses em dia.

Em buscas por grupos abertos no Telegram - aplicativo de mensagem reconhecido por ter uma política de moderação de conteúdo quase nula e pouca transparência para com as autoridades brasileiras -, o Terra encontrou diversas trocas de mensagens de pessoas que se dizem capazes de inserir dados falsos de vacinação diretamente pelo sistema DataSUS.

 

O ‘serviço’ é personalizado. Anúncios indicam que a pessoa pode escolher quantas doses da vacina quer registrar, as datas de vacinação e, também, qual será o fabricante das doses. As mensagens, publicadas por perfis anônimos, explicam que o registro é feito por profissionais de saúde que têm acesso ao sistema, de forma interna. 

Tudo isso tem um custo, que pode chegar a R$ 800 a “imunização completa” - em alguns casos, já incluindo a possibilidade da dose da Pfizer bivalente. Há quem anuncie uma dose por R$ 150 e quatro por R$ 300, em um “promoção relâmpago”. Esse é o “valor da liberdade” para as pessoas que se recusaram a se vacinar - contrariando o indicado pelo Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela comunidade científica, como um todo.

 

Na maior parte dos anúncios que o Terra teve acesso, os “vacinadores”, como alguns se intitulam, permitem que o pagamento seja feiro depois que as doses constem no ConectSUS, sistema que permite a geração do comprovante de vacinação em PDF, com QR-Code de comprovação. Porém, se o pagamento não for feito, estes anunciantes dizem que a dose será retirada do sistema.

Há mensagens do tipo publicadas tanto nos meses de agravamento da pandemia como em poucos dias antes da Polícia Federal deflagrar a Operação Venire, que investiga atuações criminosas do tipo, de inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas SI-PNI (Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações) e RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde) do Ministério da Saúde.

"Ponta do iceberg"

O cientista de dados Marcelo Oliveira, programador que atua no Infovid e que encontrou os registros de vacinação de Jair Bolsonaro no DataSUS antes da Operação Venire vir a público, acredita que isso tudo é apenas “a ponta do iceberg”.

Em entrevista ao Terra, ele pontua que deve ter diversas pessoas públicas que se posicionam como anti-vacina mas que, em meio às restrições sanitárias, viajaram para países como os Estados Unidos - que requerem a certificação da vacina. Então ou elas se vacinaram, ou forjaram o passaporte vacinal.

 

Todos podem ser identificados

De acordo com o Ministério da Saúde, não há nenhum registro de invasão externa nos sistemas do governo. Sendo assim, todos os registros realizados foram feitos com o uso de logins e senhas fornecidos pelo próprio ministério. Segundo a pasta, todos os dados são rastreáveis e auditáveis - pois, mesmo se ‘excluídos’, continuam constando no sistema.

No caso da investigação em torno dos registros do ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, a Polícia Federal solicitou os dados completos em torno do lançamento feito e chegaram aos nomes de quem cadastrou as doses e, também, de quem excluiu os registros apontando ‘erro’. 

Como as mensagens de supostas vendas de registros, obtidas pelo Terra, não contêm dados concretos - como o nome de posto de saúde em que os dados são lançados, o nome de algum profissional de saúde envolvido ou, então, algum dado referente à pessoa que teria fraudado a carteira de vacinação -, não foi possível solicitar informações complementares sobre os casos ao Ministério da Saúde. 

Além disso, questionado pelo Terra sobre essas mensagens de possíveis fraudes, o Ministério da Saúde não se pronunciou por conta das investigações da Operação Venire estarem em andamento. A pasta colabora com a Polícia Federal e afirma seguir à disposição das autoridades.


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