06/04/2023 às 15h37min - Atualizada em 09/04/2023 às 00h02min

Abril Azul amplia debates sobre introdução alimentar e nutrição adequada para crianças com espectro autista

É importante que a criança tenha avaliação frequente e acompanhamento com o pediatra e com o nutricionista

SALA DA NOTÍCIA Kamila Aleixo
https://www.crn3.org.br/
CRN-3
Em 2 de abril, celebra-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007. Devido sua importância, o marco se estende durante todo o mês com a campanha Abril Azul, quando são realizados debates e ações a fim de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos que apresentam transtorno do espectro autista (TEA).
Entre as diversas particularidades daqueles que possuem a condição do espectro autista, está o desafio da introdução alimentar para as crianças. Devido aos aspectos da seletividade alimentar, que é uma característica comum em muitos casos de TEA, vários fatores podem contribuir para a aceitação ou não dos alimentos, como explica a nutricionista e diretora do Conselho Regional de Nutricionistas  3ª Região (CRN-3), Legiane Rigamonti: “a seletividade alimentar é marcada pela recusa com determinados alimentos, que pode acontecer em virtude da dificuldade em expressar que, talvez, aquele alimento traz sensação de dor, medo, desconforto, ou ainda quando teve episódios de vômito ou cólica”.

Já a nutricionista Marina Isabela da Silva, diz que a seletividade alimentar é uma angústia vivida por muitos familiares e que a falta de orientação gera atitudes que podem prejudicar o desenvolvimento das crianças. “Os pais ou responsáveis acabam realizando a oferta de alimentos de forma equivocada para aceitação do alimento. Quem nunca viu alguém falando para uma criança: “experimenta só um pouquinho?”, “se você comer a cenoura eu te dou uma bala?”; ou ainda, “você só irá sair da mesa depois que comer?”. Essas atitudes podem acabar trazendo uma associação negativa com os alimentos e ao prazer em comer”, pondera.

“Para um tratamento adequado é necessário entender todo histórico alimentar da criança, o ambiente em que a criança realiza as refeições, como é apresentação das refeições, identificar os alimentos recusados e os comportamentos apresentados durante a recusa, cada detalhe é relevante para a escolha do tratamento”, explica Mariana.

“Crianças portadoras do transtorno do espectro autista podem ter dificuldade em lidar com estímulos sensoriais, como ruídos altos ou luzes brilhantes, odores, texturas e sabores. Inclusive, ao mastigar um alimento crocante, o ruido da mastigação pode gerar um desconforto.” acrescenta Legiane.

Cada criança autista é única em suas preferências e aversões alimentares, portanto, a introdução alimentar deve ser adaptada para cada uma. E o nutricionista desempenha um papel primordial nessa fase. É esse profissional que vai ajudar a identificar as necessidades nutricionais específicas e desenvolver um plano alimentar levando em consideração as preferências e as aversões alimentares.

“Para o tratamento de seletividade alimentar, deve-se sempre procurar um nutricionista para orientar da melhor forma no tratamento e, caso seja necessário, na suplementação. A família pode ajudar na melhora da aceitação de novos alimentos estabelecendo uma rotina e tempo para realização das refeições, aproximar, aos poucos, a criança à mesa de forma lúdica com brincadeiras, oferecer combinações com alimentos já aceitos, apresentar o alimento já aceito com pequenas diferenças no sabor, cor ou forma de preparar, podem ajudar bastante”, ressalta Mariana.

Legiane comenta que os pais, familiares e cuidadores podem observar se a criança rejeita alimentos com determinadas cores, odores, consistências, texturas e temperatura. “Nesse caso, é fundamental avaliar o que está sendo aceito e encorajá-lo ao consumo, e o que tem rejeição, pode-se tentar ofertar em outros momentos”. A conselheira do CRN-3 ainda destaca algumas atitudes que podem tornar a hora de comer um momento mais prazeroso e menos estressante.
 
  • Não force a criança a comer;
  • Use palavras de incentivo;
  • Procure sorrir e demonstre tranquilidade;  
  • Permita que esses momentos sejam harmoniosos, evitando discussões e brigas à mesa;
  • Desligue a TV, afaste o celular;
  • Opte por fazer a refeição em família;

Importância da Nutrição
 
O trabalho do nutricionista em conjunto com outros profissionais, como fonoaudiólogos e terapeutas, agrega em muitos aspectos, sobretudo nos relacionados à alimentação. “É imprescindível que ocorra a participação da equipe multidisciplinar no processo de introdução alimentar, que é um marco no crescimento e desenvolvimento da criança. Os primeiros sinais de seletividade alimentar aparecem antes dos 2 anos de idade, justificando a importância do acompanhamento desses profissionais neste processo, com o objetivo em comum na melhora do progresso alimentar.”, explica Mariana.
O desenvolvimento infantil tem seu início na concepção e inclui o crescimento físico, maturação neurológica, comportamental, cognitiva, social e afetiva da criança. Para realizar o monitoramento do crescimento (peso e altura) é importante que essa criança tenha avaliação frequente e, minimamente, o acompanhamento com o pediatra e com o nutricionista, além de outros profissionais de saúde que também podem avaliar o desenvolvimento neurológico e psicomotor.


Por Kamila Aleixo

 


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