13/03/2023 às 08h18min - Atualizada em 13/03/2023 às 08h18min

Jornalistas relembram machismo e assédio nos bastidores da política: 'Hoje em dia devolvo constrangimento', diz Natuza Nery

Em bate-papo com Renata Ceribelli, Natuza Nery, Vera Magalhães e Carol Pires analisam como ataques às mulheres na imprensa tentam tirar credibilidade profissional. Natuza relembra episódio em que teve de encerrar a conversa com uma fonte após convites insistentes para jantar.

AB Notícia News
G1
Reprodução/ GloboNews

Durante o mês que antecedeu as eleições presidenciais de 2022, os ataques às mulheres jornalistas cresceram 250%, segundo dados da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). O levantamento mostrou ainda que 50% das agressões tiveram a participação de agentes estatais.

Um dos episódios mais emblemáticos foi protagonizado pela jornalista Vera Magalhães, que foi ofendida pelo deputado Douglas Garcia durante um debate entre candidatos ao governo de São Paulo.

Em mais de uma ocasião, a colunista do jornal 'O Globo', comentarista da CBN e apresentadora do Roda Viva também foi publicamente atacada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a dizer que Vera "deveria dormir pensando nele".

 

 

Sexualização como ataque à credibilidade

 

Em entrevista à Renata Ceribelli, a jornalista relembra os episódios ao lado das colegas de profissão Natuza Nery e Carol Pires. Vera Magalhães avalia que, em boa parte dos ataques às profissionais da imprensa durante o governo Bolsonaro, havia "uma tentativa de sexualizar a mulher" que não acontecia ao acaso.

 

"É algo que ele tem ali, inerente a ele, e faz com jornalistas mulheres na tentativa de tirar a credibilidade.", afirma Vera.

 

 

'A gente era ensinada a não reagir'

 

O machismo no jornalismo político nunca foi exclusividade do bolsonarismo. Para construírem suas carreiras em um ambiente predominantemente masculino, as apresentadoras aprenderam a driblar piadas de colegas de profissão e tiveram até mesmo de enfrentar o assédio por parte de fontes.

 

"Eu agora devolvo constrangimento", afirma Natuza Nery, apresentadora da Central Globonews e do podcast O Assunto. "Quando o político me constrange, eu falo: 'E aí, senador, vai pagar o machismo no crédito ou no débito?'"

 

Assim como a presença feminina na política, o enfrentamento direto às abordagens machistas também tem avançado com o tempo. "A gente era ensinada a não reagir", relata Natuza. Ela ainda relembrou um episódio em que teve de encerrar a conversa com uma fonte após convites insistentes para jantar.

 

 

Ao justificar que não iria a Brasília por conta de um problema de coluna, a apresentadora ouviu do político que ele teria "uma massagista ótima em casa". "Eu falei: 'Quer saber? Não falo mais com essa pessoa'".
 

O mesmo aconteceu com Carol Pires, apresentadora do podcast Retrato Narrado e roteirista do documentário 'Democracia em Vertigem'. Durante a cobertura do impeachment de Dilma Roussef, a jornalista estendeu a mão para cumprimentar um governador e, em vez de receber um aperto de mão, foi tocada no lóbulo da orelha sem o seu consentimento.

 

"Ele falou 'que orelhinha gostosa' e continuou andando. Foi uma dessas situações em que você acha que está empoderada... Mas na hora foi paralisante."

 

 

 

Mais mulheres na política

 

A hostilidade às mulheres na cobertura política é consequência da desigualdade de gênero nesta mesma esfera. O Brasil está entre os países com menor participação feminina nos parlamentos federais, apesar das reformas realizadas nos últimos anos para aumentar a igualdade de gênero na política.

 

"Sociedades onde a gente tem mais mulheres na política e mais mulheres na imprensa são democracias mais fortes, mais diversas e participativas", explica Carol. "Então é claro que não querem mais mulheres na política. Isso faz com que homens brancos que sempre estiveram no poder tenham de dividir seu espaço."

 

Para transformar essa estrutura patriarcal, as jornalistas acreditam na importância de mulheres em posição de destaque se manifestarem contra o machismo. "De certa forma, a gente abre caminho", analisa Natuza.
 


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