ReproduçãoMenos de dois dias depois de o assessor especial para a Presidência da República, Celso Amorim, ter sido recebido em Caracas pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a primeira missão de funcionários do governo chavista desembarcou no Brasil, para discutir acordos em matéria de saúde e ajuda humanitária.
Segundo explicaram fontes de ambos os governos ao GLOBO, a missão, comandada pelo vice-ministro das Relações Exteriores para a América Latina, Rander Peña, buscará “identificar áreas de cooperação para atendimento integral a comunidades indígenas ianomâmis de ambos os países”.
O vice-chanceler venezuelano será recebido pela secretária geral do Itamaraty, embaixadora Maria Laura da Rocha, confirmaram fontes diplomáticas. Também participará do encontro o novo encarregado de negócios do Brasil em Caracas, embaixador Flavio Macieira.
É esperada, ainda, a presença do novo embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vicente Vadell, que esteve em Caracas para acompanhar o encontro de Maduro e Amorim.
Após a visita de Amorim à Venezuela, a chegada ao Brasil da delegação do governo de Maduro será a primeira de muitas, afirmam fontes dos dois governos. A intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é recompor a relação bilateral com uma agenda positiva, e acompanhar a Venezuela de Maduro no que o Brasil espera seja um processo de recuperação plena da democracia. A preparação e os gestos que o Palácio de Miraflores dará em relação às eleições presidenciais de 2024 serão essenciais para avançar nesta direção.
A questão das comunidades ianomâmis não tem na Venezuela a mesma importância e repercussão que tem no Brasil. O governo Lula decidiu enfrentar a crise humanitária do povo ianomâmi nas primeiras semanas do governo, e a cooperação com a Venezuela tem vários objetivos, além da própria ajuda às comunidades indígenas. É parte de uma agenda positiva, que o Brasil espera que inclua temas em outras áreas importantes para o governo Lula, como democracia e respeito pleno a direitos civis e políticos. Além de conversar com o governo Maduro, os enviados do governo brasileiro a Caracas se reuniram com vários dirigentes da oposição, sobretudo os que estão participando do diálogo — atualmente suspenso — no México, com mediação da Noruega.
A viagem de Amorim foi curta — menos de 24 horas —, mas serviu para que o governo brasileiro veja in situ a situação política na Venezuela de Maduro. A primeira impressão em campo, comentaram fontes que acompanharam a visita, foi de que a situação na atualmente Venezuela é complexa, talvez mais do que alguns membros do governo brasileiro imaginavam. A intenção é intensificar o diálogo com Maduro e com setores da oposição, e, se houver um pedido, avaliar o envolvimento do Brasil no processo de conversas no México, como um eventual facilitador.
