Para tentar contornar a situação, Lula optou pela volta dos impostos de forma progressiva, com uma taxação gradual para o etanol e para a gasolina. A partir de de 1º março, o governo voltará a cobrar R$ 0,47 de imposto na gasolina e R$ 0,02 no etanol.
Paralelamente, o Planalto vai investir em críticas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para tentar amenizar os desgastes por conta do aumento do preço dos combustíveis. Durante o anúncio sobre o reajuste, Haddad disse que a redução dos impostos federais foi uma medida eleitoreira do governo Bolsonaro, que só foi estendida por Lula porque havia rumores de um golpe de Estado e a reoneração poderia inflar atos considerados antidemocráticos.
A avaliação é de que Lula precisa encampar o discurso de que a desoneração dos combustíveis foi uma "armadilha eleitoreira" do governo anterior. A redução dos impostos federais sobre combustíveis foi aprovada durante o governo Bolsonaro, no ano passado, em meio à alta nos preços do petróleo no mercado internacional, em decorrência da guerra na Ucrânia.
Ao assumir o governo, no entanto, Lula optou por manter a desoneração por dois meses, temendo um desgaste logo no início de mandato. Àquela altura, o presidente manteve a redução de impostos mesmo contra a orientação de Haddad.
Agora, integrantes do Planalto afirmam que a solução intermediária foi definida por Lula para contemplar necessidades técnicas da equipe econômica e também os argumentos políticos do PT.
Outro ponto que acendeu o alerta em integrantes do governo é a resistência dos servidores federais em acatar o reajuste salarial de 7,8%. A proposta inclui ainda um aumento de R$ 200 no vale-alimentação dos funcionários públicos federais, de acordo com o Ministério da Gestão.
O governo espera enviar a proposta de reajuste ao Congresso Nacional por medida provisória para que ela passe a valer imediatamente. De acordo com técnicos do Executivo, o impacto será de R$ 11,2 bilhões, valor já previsto no Orçamento deste ano para reajuste salarial.
Na contramão da proposta do governo, o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) tem defendido um reajuste de 13,5%. Em ofício endereçado ao secretário de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho do Ministério da Gestão, Sérgio Mendonça, o Fonacate argumenta que o reajuste de 7,8% fica muito aquém das perdas salariais acumuladas nos últimos anos, em que o funcionalismo federal teve o salário congelado.
O fórum ainda propõe que o governo inclua no acordo com os servidores o compromisso de equiparar todos os benefícios com os demais Poderes até o fim de 2026, “sem deixar de reconhecer o esforço feito para reajustar o auxílio-alimentação pela variação do IPCA desde 2016”. Em outra frente, sindicatos não descartam um movimento de paralisação.
Para tentar contornar a crise, a ministra da Gestão, Esther Dweck, pretende realizar uma nova rodada de negociações. Aos servidores, o governo vai se comprometer a articular, junto ao Congresso Nacional, a retirada da proposta de reforma administrativa encaminhada pelo governo Bolsonaro da pauta de discussões no Legislativo.
A proposta do governo Bolsonaro muda regras como estabilidade e o regime jurídico para servidores. Pelo texto, a estabilidade fica restrita a carreiras típicas de Estado, como diplomatas. Recentemente, em um jantar com empresário, o ministro Fernando Haddad sinalizou que a reforma administrativa não será uma das prioridades do governo Lula.
Paralelamente, aliados de Lula já temem que as disputas do Congresso Nacional sobre pontos da reforma tributária possam atrasar a aprovação da medida ainda neste ano. A Câmara dos Deputados instalou o grupo de trabalho para discutir a proposta, o qual é presidido pelo deputado Reginaldo Lopes (PT/MG) e tem como relator o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP/PB).
O colegiado se reuniu pela primeira vez nesta semana, mas diante de divergências e, dadas as polêmicas, líderes partidários não descartam a possibilidade de criação de uma comissão especial. Nos cálculos do governo, esse movimento pode travar as discussões e acabar desidratando a proposta.
"É preciso ouvir a parte técnica, mas ninguém aprova nada aqui sem a parte política. Uma reforma tributária não se faz sem entendimento da Câmara e do Senado e com o Executivo apoiando. Embora a gente saiba que sempre haverá divergência, com essa disposição, teremos a reforma tributária que a gente precisa", disse Aguinaldo Ribeiro.
Aliado do Planalto, Reginaldo Lopes já defendeu que as discussões não podem ultrapassar o ano de 2023. "Nós precisamos aprová-la ainda este ano. Qualquer reforma estruturante, tanto para a Câmara quanto para o Senado ou para o Poder Executivo, só terá sucesso se for realizada ainda no primeiro ano de mandato. Então, esse é o nosso limite para conseguir mudar tanto o sistema tributário para os impostos diretos quanto para os impostos indiretos”, explicou o deputado.
Neste caso, o governo vai precisar driblar os diferentes interesses sobre a proposta. Já há um embate público entre os prefeitos e o secretário especial, Bernardo Appy, em torno do Imposto Sobre Serviços (ISS). A Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) já se movimenta contra a proposta de Appy para acabar com o tributo.
Recentemente, Appy disse que o ISS é um imposto “atrasado” e que os prefeitos “terão que aceitar o fim” do tributo. Na contramão, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), disse que “nada pode ser pior no mundo do que o técnico autoritário”. "Se [Appy] acha que vai avançar com a reforma tributária assim, certamente teremos mais uma proposta fracassada à frente”, declarou Paes, na ocasião.
Um grupo de parlamentares ligados ao Centrão, já adianta, porém, que a reforma, se sair, será em muito desidratada. Além disso, os líderes partidários sinalizam que possivelmente a discussão será fatiada dados os diversos e polêmicos interesses envolvidos no tema.