17/11/2022 às 12h58min - Atualizada em 18/11/2022 às 00h00min

Teto de gastos: entenda norma que novo governo quer alterar para garantir benefícios sociais

Equipe de transição tem discutido como manter programa Auxílio Brasil sem descumprir limite de gastos públicos. Regra prevê aumento de despesas limitado à inflação de 12 meses até junho do ano anterior.

G1
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Equipe de transição tem discutido como manter programa Auxílio Brasil sem descumprir limite de gastos públicos. Regra prevê aumento de despesas limitado à inflação de 12 meses até junho do ano anterior. Fachada do Ministério da Fazenda, na Esplanada dos Ministérios
Bianca Marinho/G1
Os primeiros dias de trabalho da equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram dedicados, em grande medida, à meta de viabilizar a manutenção do programa Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) em R$ 600, além de arrumar dinheiro para cobrir outros gastos sociais e cumprir promessas de campanha, como o aumento real do salário mínimo.

O desafio é como fazer isso sem furar o teto de gastos (veja abaixo vídeo sobre a PEC da Transição).
Mas, afinal, o que é o teto de gastos?
Proposto em 2016 pelo então presidente Michel Temer, quando a área econômica era chefiada por Henrique Meirelles, e em vigor desde 2017, o mecanismo impõe um limite no valor que o governo federal pode gastar a cada ano.
Por essa regra, o crescimento da maior parte das despesas públicas fica limitado à inflação registrada em 12 meses até junho do ano anterior. O teto de gastos inclui também os chamados "restos a pagar" de orçamentos de anos anteriores. A norma engloba as despesas da União, incluindo os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de Ministério Público da União e Defensoria Pública.

Entenda abaixo o teto de gastos a partir dos seguintes tópicos:
Norma para controlar finanças
Incerteza e taxa de juros
Auxílio Brasil fora do teto
R$ 794 bilhões fora do teto no governo Bolsonaro
Saúde e Educação
Mudanças no governo Bolsonaro
Rigidez do teto e 'cláusula de escape'
Alckmin entrega texto da PEC da Transição ao Congresso; proposta tira Bolsa Família do teto de gastos
1. Norma para controlar finanças
Quando o teto de gastos foi criado, a equipe econômica justificou a medida como uma forma de controlar o rumo das finanças do governo. O Brasil gastava mais do que arrecadava, passou a acumular déficits primários sucessivos (gasto acima da arrecadação, excluindo os juros) e viu a dívida crescer.
Em 2015, por conta da piora nas contas públicas, o Brasil perdeu o grau de investimento – uma espécie de 'selo de bom pagador' e que assegurava a confiança dos investidores internacionais na economia brasileira. O teto de gastos surgiu para controlar o crescimento da dívida e dar previsibilidade sobre as contas públicas.
Já na criação do teto, no entanto, havia exceções a ele, como nos casos de transferências constitucionais aos estados, municípios e Distrito Federal e nas complementações ao Fundeb, fundo voltado para a educação básica.
2. Incerteza e taxa de juros
Contas públicas sob controle permitem que a taxa básica de juros da economia, a Selic, seja mais baixa – já que o governo é visto como 'bom pagador'. Com juros menores, é possível investir mais na economia, gerando mais crescimento e empregos.
Sem uma âncora fiscal clara, em períodos de discussão de mudanças no teto fiscal, a economia brasileira já enfrentou períodos de incerteza, com desvalorização do dólar em relação ao real.
Na manhã desta quinta-feira, o dólar operava em alta, com cautela do mercado pela proposta apelidada de "PEC da Transição", que prevê flexibilizar o teto de gastos.
3. Auxílio Brasil fora do teto
Em 16 de novembro, a equipe do governo eleito foi ao Congresso entregar a sugestão de texto para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição (veja os principais pontos). O plano é viabilizar o pagamento do Bolsa Família no valor de R$ 600 a partir de janeiro. O documento prevê excluir da regra do teto de gastos R$ 198 bilhões ao todo (veja detalhes mais abaixo).
A PEC da Transição é uma alternativa elaborada pelo novo governo para excluir do teto os repasses com o Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família). Caso isso não se viabilize, o pagamento seria de R$ 405 a partir de janeiro, conforme consta no Orçamento entregue pelo governo Jair Bolsonaro (PL). A proposta prevê também que fique fora do teto o pagamento de R$ 150 para crianças de até 6 anos nas famílias que recebem o benefício.
Após reunião em 17 de novembro, representantes dos 14 partidos da aliança com Lula fizeram uma avaliação positiva sobre a aprovação da PEC, conforme relatou o blog do Valdo Cruz no g1. Na avaliação desses líderes, o texto será aprovado, mas pode sofrer algumas alterações. A principal delas diz respeito ao período ao longo do qual será permitido furar o teto.
O texto enviado prevê originalmente a exclusão permanente desse benefício da lista de repasses limitados pelo teto de gastos, mas a avaliação de aliados de Lula é que isso não será aprovado. A tendência, assim, é que o prazo fique restrito ou a todo o mandato do presidente eleito (quatro anos) ou à metade desse período.
A equipe de Lula, por outro lado, não concorda com a proposta de aliados do presidente Jair Bolsonaro, de uma exclusão dos valores do teto por apenas um ano.
O time de transição deve se reunir, em 23 de novembro, com todos os líderes e presidentes de partidos aliados para começar a discutir a votação da PEC da Transição. O encontro deverá ser aberto também a lideranças de legendas que não integram o conselho político do time de transição, entre as quais PP e Republicanos.
Os R$ 198 bilhões fora do teto se dividem da seguinte maneira:
R$ 105 bilhões (correspondem ao Auxílio Brasil de R$ 405);
R$ 70 bilhões (a serem usados para que o valor do benefício chegue a R$ 600 e para bancar os R$ 150 a mais por crianças de 6 anos);
e R$ 23 bilhões (valor proveniente de eventual excesso de arrecadação.
4. R$ 794 bilhões fora do teto no governo Bolsonaro
Levantamento do economista Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), publicado em reportagem da BBC, aponta que o governo Bolsonaro gastou R$ 794,9 bilhões fora do teto entre 2019 e 2022, com autorizações dadas pelo Congresso e manobras como o adiamento do pagamento de precatórios.
5. Saúde e Educação
O teto de gastos também engloba as despesas em saúde e educação, mas alterou os "pisos" (valores mínimos a serem aplicados) nessas áreas. Até então, essas despesas estavam atreladas à receita do governo. Se a arrecadação subisse, os gastos mínimos em saúde e educação também deveriam, necessariamente, ser maiores.
Com a mudança, os valores mínimos nessas áreas passaram a ser corrigidos pela variação da inflação do ano anterior, e não mais pela receita. Na ocasião, o governo argumentou que o Congresso Nacional poderia aumentar os valores, mas que, em contrapartida, outras despesas deveriam ser canceladas.
6. Mudanças no governo Bolsonaro
Com a aprovação neste ano da proposta que ficou conhecida como "PEC Kamikaze", defendida por governistas para garantir o pagamento do Auxílio Brasil até o fim de 2022, o teto de gastos sofreu sua quinta alteração no governo Bolsonaro.
Relembre aqui as demais mudanças na regra desde setembro de 2019.
7. Rigidez do teto e 'cláusula de escape'
Criado num contexto econômico ruim, após a recessão do governo Dilma Rousseff, e modelo aplicado na gestão fiscal de outros países, o teto de gastos já recebeu críticas por ser muito rígido e difícil de ser cumprido.
A economista e professora da Universidade Johns Hopkins Mônica de Bolle acredita que as alterações que o mecanismo vem sofrendo tiram credibilidade da política fiscal. Em entrevista ao podcast "O Assunto" (ouça aqui) ela afirmou que é preciso uma nova proposta.
"O grande problema que nós temos hoje com esse teto de gastos é que ele não dá conta da realidade. [É preciso] ter uma espécie de cláusula de escape, que é uma maneira de acomodar situações em que, por alguma razão, você não vá cumprir precisamente o teto daquela forma como ele foi desenhado, porque houve uma circunstância extraordinária, por exemplo", disse.
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Credito G1



Fonte: https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/11/17/teto-de-gastos-entenda-norma-que-novo-governo-quer-alterar-para-garantir-beneficios-sociais.ghtml


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