20/10/2022 às 17h00min - Atualizada em 21/10/2022 às 00h04min

Crianças transgênero existem?

Mãe de uma menina transgênero, Thamirys Nunes compartilha sua trajetória durante congresso no Rio de Janeiro

SALA DA NOTÍCIA Gabriela da Silva
Divulgação

Ágatha é uma menina como qualquer outra de 7 anos: gosta de brincar, de ir para a escola, de fazer dancinhas com a irmã mais velha e ama férias em família. Até os quatro anos, porém, ela era Bento. Ágatha é uma criança transgênero. Para a famíia, isso significou um longo processo de aceitação. Entre questionamentos e medo, a falta de informação sobre a infância trans foi o maior desafio. “A angústia foi uma das coisas que mais definiram todo esse processo de entendimento da condição de vida da minha filha. Tinha pouca informação sobre crianças trans, fui muito julgada, e não sabia quais eram os próximos passos, o que esperar. Fiquei muito angustiada com essa solidão, com essa falta de informação, com esse julgamento, mas, principalmente, sobre não saber qual é o próximo passo. O que eu devo fazer? O que minha filha espera de mim?”, descreve Thamirys Nunes, mãe de Ágatha e autora do livro Minha Criança Trans?: Relato de uma mãe ao descobrir que o amor não tem gênero.

Na obra, Thamirys conta como foi o processo de transição da filha e a sua própria ressignificação da maternidade. A obra, lançada em 2020, surgiu como uma forma de acolher outras mães que estivessem passando pela mesma situação. “Cheguei em um ponto em que achei que nunca mais seria feliz, foi um processo muito difícil, mas voltei a sorrir quando passei a entender que eu poderia amar a minha filha e superar aquelas dores. As pessoas não conseguiam me amparar, me dar colo, porque não conseguiam entender a sensação que eu tinha, o luto que eu estava vivendo, eu não sabia se ia conseguir amar essa criança que estava vindo”, diz. Depois da publicação do livro, Thamirys começou a ser procurada por outras mães que se identificavam com sua trajetória. Assim, em outubro de 2020, deu início a um grupo de acolhimento, que hoje soma mais de 400 integrantes do Brasil todo. “Se nós estivermos sozinhas, somos muito facilmente oprimidas, é muito fácil nos culpabilizar. Mas quando somos muitas, diversas, plurais, ganhamos força para falar: ‘Não é minha culpa, é um processo natural do meu filho, as pessoas trans nascem trans e está tudo bem’”, ressalta.

Diante da necessidade de falar sobre o tema, a mãe de Ágatha passou a se dedicar exlusivamente ao ativismo trans, junto a organizações LGBTQIA+, que não contavam com área de atuação na infância e adolescência, e hoje é referência no tema. Nesta sexta-feira (21), Thamirys participará do Congresso Brasileiro de Terapia Cognitiva na Infância e Adolescência (Concriat), no Rio de Janeiro, com o painel “Crianças trans existem?”. “Vivemos em uma sociedade que acha que ser trans é uma decisão. No entanto, enquanto se fomenta a ideia de que aquela pessoa decidiu ser trans, a criança trans é uma aberração. O que a gente precisa é mudar o jogo. Ninguém escolhe ser trans em um cenário tão transfóbico quanto o nosso país”, enfatiza. Ainda dentro da programação do evento, a autora ministrará o minicurso “Pessoas trans não nascem com 18 anos”, destinado a profissionais que trabalham com o atendimento terapêutico infantojuvenil. “Eu sei que a Ágatha terá que enfrentar as próprias batalhas e os próprios desafios, mas por hora a minha função é carregar essa bandeira e deixar que ela tenha uma infância o mais feliz possível, sem esse peso todo que a bandeira trans traz sobre uma pessoa”, resume.

 

Sobre o Concriart

O Congresso Brasileiro de Terapia Cognitiva na Infância e Adolescência (Concriat) reúne o que há de mais novo nas pesquisas e na prática clínica com crianças e adolescentes. O evento nasceu em 2012, com o objetivo de integrar terapeutas, compartilhar vivências e recursos clínicos e debater as principais abordagens e produções científicas da terapia cognitiva na infância e adolescência. Hoje, o Concriart é o maior encontro da América Latina na área, reunindo autores e profissionais que são referência no Brasil e no mundo. Em 2022, o tema do evento é “Promovendo vínculos transformadores: desenvolvendo resiliência para a vida”.

A ideia do Concriart é ouvir neurocientistas, médicos, professores, juízes, artistas, escritores, historiadores, sociólogos, antropólogos, pedagogos e outras vozes, ampliando o olhar para o tratamento de crianças e adolescentes e fomentando a conexão empática multidisciplinar, um dos grandes diferenciais do encontro. O Concriart reúne, ainda, histórias de superação, resiliência e saúde mental.

 

Serviço

O quê: Concriart 2022

Quando: de 20 a 22 de outubro de 2022 

Onde: Barra Brisa Riale Hotel (Barra da Tijuca), Rio de Janeiro

Programação completa: irp.cdn-website.com

Inscrições e informações: concriart.com.br


 

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